Historico

Um emigrante norueguês em 1850. J.G.Ryther

Por: Tradução de um manuscrito de 1893, publicado na revista norueguesa GAULDALSMINNE ( Memórias de Gaudal -Revista de histórias da vida e do povo) em outubro de 1943. - em 12/05/2002

Hoje em dia uma viagem à América (e mesmo à Austrália) é considerada algo comum. Mas no meio deste século a emigração não era tão usual, e talvez vai interessar a um ou outro ouvir sobre um emigrante norueguês da época quando era necessário confiar no transporte inseguro e instável de um navio a vela.

Jens Mahlum foi um dos primeiros emigrantes da Noruega. Ele nasceu na fazenda Malum em Singsas dia 2 de Fevereiro de 1825, e passou seus primeiros 25 anos lá. Ouviu-se então que um grande navio partiria de Trondhjem para Califórnia com emigrantes. A notícia também chegou a Singsas e Jens foi um daqueles que decidiu experimentar até onde as asas o levariam.

No porto de Trondhjem se encontrava o grande navio "Sofie"(Sophie), comprado em Hamburgo, pronto para levar os emigrantes corajosos através do imenso oceano contornando o sul da América até a terra dourada da Califórnia. De Guldalen, Stjordalen, Indsherred e outras regiões juntaram-se, e no dia 4 de Novembro de 1850 partiu o primeiro navio de emigrantes do porto de Trondhjem levando em torno de 120 emigrantes.

A intenção era passar pelo Canal Britânico, mas por causa do vento contrário, eles permaneceram no Mar do Norte até 27 de Novembro. Uma tempestade empurrou o navio até o norte da Escócia e de lá, adiante em direção ao mar de gelo. Durante 6 dias ficaram à deriva, e então eles perceberam o estado precário da embarcação na qual eles se encontravam, porque antes de tirarem as velas, viram as tábuas do navio cederem e abrirem. Os passageiros ficaram descontentes e insistiram que estavam perdidos, mas quando o tempo melhorou e o vento estava mais favorável e o capitão conseguiu convencê-los de que estavam rumo ao sul, eles se acalmaram - dentro das circunstâncias. O capitão era um alemão chamado Lessen e tinha somente 26 anos de idade. A viagem seguiu então razoavelmente até chegar perto do Rio de Janeiro, mas aí veio outra tempestade que os atrasou por mais 7 dias. Houve uma trovoada com relâmpagos muito forte e eles tinham medo que o navio poderia pegar fogo. Graças a Deus isso não aconteceu, mas um navio de passageiros francês sumiu em flamas. Eles chegaram ao Rio de Janeiro no dia 26 de Janeiro de 1851, isto é, após quase 3 meses de viagem em alto mar. Depois de passar por São Cloud oficiais embarcaram e impediram o capitão de passar além do Rio de Janeiro, pelo fato de o navio estar fora de condições. Eles perfuraram as tábuas com as suas facas, tão ruim era o estado da madeira. Obviamente foi condenado e os emigrantes que queriam chegar até a Califórnia acabaram desembarcando no Rio de Janeiro. A situação deles piorou porque justo nesta época a febre amarela estava deixando cair morta muita gente nas ruas da cidade.

Depois de alguns dias uma parte deles conseguiu uma oportunidade de viajar num navio que ia para a Califórnia, mas a maioria foi aconselhada pelo cônsul alemão a se dirigir à colônia Dona Santa Francisca, ao sul do Rio de Janeiro. Jens permaneceu no Rio durante 5 semanas, e então foi para Santa Francisca . Este lugar era uma terra extremamente fértil, "como um jardim ou um paraíso onde toda a vegetação tropical prosperava". Mas o clima não era saudável para os nórdicos e Jens teve que ficar de cama com febre durante 5 semanas. "Tão doente e tão perto da morte nunca estive", ele conta numa carta de lá. Quando se recuperou estava pálido e de cabelo e barba pretos igual a um brasileiro nativo. Mas depois disso a saúde dele estava boa durante o resto do seu exílio. Em Sta. Francisca ele fundou uma companhia junto com 7 companheiros emigrantes. Trabalhavam como fazendeiros e tinham também uma olaria. Plantaram principalmente café, açúcar, arroz, milho, feijão, mandioca , bananas, laranjas e limões, além de vários condimentos. Juntaram-se dois navios de emigrantes à colônia, de maneira que após 2 anos tinha 5000 habitantes. Ele conta das condições da colônia em várias cartas e eu acho mais certo citar um trecho de uma delas:


"Donna Francisca, 26 de Junho de 1852.

Queridos pais, irmãos, avô e avó!
É agora a terceira vez que me comunico com vocês a respeito da minha situação aqui nessa terra distante, Brasil. Estou bem e com boa saúde e não posso reclamar quanto a meu estado como um todo.

Somos 8 na companhia e todos noruegueses; a gente se dá bem como irmãos. Desistimos da olaria porque a primeira leva de tijolos queimou; isso porque o chefe não conhecia o barro daqui. Compramos 4 cavalos e todos morreram porque só tínhamos folhas de palmeira e bambu como ração. Grama comum não existe aqui, só erva má. O lucro com tijolos não é grande ainda porque aqui se usa folhas em vez de tijolos, e ripas de palmeira e barro nas paredes. Depois de várias tentativas achamos finalmente barro melhor que dá tijolo bom. ---- Com o terceiro e o quarto navio de passageiros chegaram colonos de Hamburgo que tinham dinheiro e queriam contratar mão de obra. Pois então a gente se despediu do nosso chefe e fomos trabalhar para alemães e franceses, alguns derrubando árvores, outros como pedreiros etc. Cortar árvores é uma boa profissão. As árvores são jacarandá, cedro, canela e centenas de outras cujo nome desconheço. Ultimamente tenho arrumado um jardim para um naturalista chamado Straube, e assim que puder vou começar outro para o governador Obe, um francês. A diária aqui é 1 mil reis. Raramente um alemão ganha uma diária igual a um norueguês. A comida aqui é muito cara se quiser viver à maneira européia; em contrapartida a cachaça é muito barata. Uma garrafa custa de 3 a 6 vinténs e meio quilo de café custa 3 a 4 vinténs; o açúcar é um pouco mais caro. A cachaça é feita de cana de açúcar. Leite é muito raro e broa nem vi aqui. Os nativos vivem principalmente de farinha de mandioca que comem no lugar de pão, mingau e sopa. Além disso comem carne seca, feijão preto e peixe, porque o rio aqui está cheio de peixe. A maioria dos habitantes são cinzentos e pálidos como um escravo que esteve acorrentado por 12 anos ou como um morto enterrado 14 dias. A dispensa deles é o mato e porão é o campo. A riqueza deles consiste em negros ou escravos e pepitas de ouro e correntes, e quem não possui negros é considerado pobre e é obrigado a trabalhar ele mesmo. O estilo de vida deles é bastante ruim, eles comem tanto desta fruta suculenta mas sem força. Os habitantes aqui são muito hospitaleiros, já fui convidado inúmeras vezes, para comer e pousar. Cadeiras, mesas, bancos ou chão de madeira raramente tem nas suas casas. Eles jogam um colchão de palha no chão ou na terra, e utilizam este para mesa, cama ou em vez de cadeiras. Mas talheres de prata não lhes faltam, até aqui no interior.

(Aqui segue um relato geográfico da parte do Brasil onde moram, e depois uma história alegre e fantasiosa sobre tudo que ele viu num passeio na Páscoa, até uma cidade vizinha. Foram os negros que em sua fé católica singela apresentaram os mais incríveis espetáculos da paixão que durou o feriado da Páscoa inteiro. Aqui segue a apresentação da Sexta-feira Santa):
A Sexta-feira Santa começou com cerimônias impressionantes. Eles colocaram um caixão no altar com uma imagem de madeira dentro, que representava o Cristo na caveira. Ele estava coberto por um sudário. Uma mão e um pé estavam descobertos e todos que entravam na igreja fizeram reverência. Também tinha 12 meninas de uns 7 a 8 anos que eram vestidas como anjos com asas e enfeitadas com ouro e jóias, tanto que elas estavam brilhando. Um barão sueco chamado Sebastian Knorring que sabia falar bem o português me disse que um anjo assim custava 18000 speciedaler (moeda escandinava). Quando escureceu todos saíram em procissão, primeiro pessoas de vermelho com os anjos que carregavam velas e 3 cruzes pretas de madeira, e atrás deles veio o caixão com a imagem de Cristo carregado por 8 homens, padres e monges, e atrás deles a imagem da Virgem Maria carregada por 4 homens e 3 mulheres que representavam Maria Magdalena, Maria Jacob e Salomé. Uma dessas mulheres subiu numa cadeira colocada em cada canto e exibiu uma placa grande que tinha a imagem do Senhor. Atrás veio um monte de soldados e depois a multidão.
Quando chegou o sábado fomos para a igreja de novo, e a primeira coisa que vimos foi o Judas, que estava pendurado numa árvore do lado da porta da igreja. Entramos na igreja onde tudo estava escuro e as portas estavam entreabertas. Uma cortina estava colocada no meio da igreja e quando todo o povo já tinha entrado ouvimos um estrondo como se fosse um terremoto. Então abriram-se todas as portas e a cortina partiu em duas partes, e os anjos apareceram nos dois púlpitos e jogaram flores brancas e folhas em cima das pessoas, e Judas caiu da árvore. Os negros estavam por perto com espadas e bateram nele. A multidão saiu pelas portas puxando-o pelas ruas e todos, que se aproximaram, correram e bateram nele. Fiquei tão transtornado com esta visão que não reconheci a roupa no meu corpo.

As leis deles são de certo modo severas: se alguém rouba algo no valor de 3 daler ele é enforcado, a não ser que tenha o dinheiro suficiente para indenizar, mas se tiver dinheiro de sobra pode fazer o que quiser e ainda sair livre. No Rio de Janeiro é possível comprar testemunhas falsas por 6 mil reis. Em 1850 morreram 20000 pessoas, quase todos europeus, em pouco tempo por causa da febre amarela e eles não deram mais valor à morte de uma pessoa do que se dá a um cachorro na Noruega. A época mais quente aqui é o Natal. Então chove todo dia e as trovoadas e os relâmpagos são terríveis. Quando o céu está limpo é impossível trabalhar no campo aberto. A roupa normal aqui é um chapéu de palha na cabeça, camisa, calça e um cinto na cintura com uma pistola e uma faca, mas sem meia.

Depois de levantar a olaria tínhamos uma dívida de 900 mil reis, mas agora já pagamos tudo, tanto trabalhando para outros como queimando tijolos, e agora queremos fabricar tijolos novamente; mas assim que nos pagarem vamos vender, pois aqui não podemos ficar mais, porque enfraquece demais a nossa saúde. Mas para onde, não sei. Eu gostaria que o senhor, meu querido pai, premeditasse comigo, se volto para casa ou se vou para América do Norte ou Califórnia ou Austrália. A Califórnia não é pintada tão maravilhosamente aqui quanto aí na Noruega, mas fico aqui até receber uma carta sua e saber como estão as coisas por aí, e se o senhor leu algo nos jornais sobre o ouro.

Te peço, meu querido irmão, não feche os teus ouvidos para as palavras nesta minha simples carta; talvez seja a última vez que te falo com a pena, Deus sabe. Portanto obedeça ao nosso pai humilde- e silenciosamente, porque seus conselhos não são em vão. Minha intenção é rever vocês todos em vida, e se eu tiver ou não algo a dividir com vocês, terão que me receber como chegarei. Agora tenho que terminar esta carta extensa, desejando a todos um Feliz Natal.

Sinceramente, vosso filho,
Jens Hanssen Mahlum."


Jens viajou para o Rio de Janeiro e conseguiu trabalho com um corretor de navios rico, de descendência dinamarquesa. Este tinha uma fazenda grande fora da cidade, e Jens administrou esta fazenda e tinha sob seu comando muitos escravos negros. Um belo dia ele desceu para uma baía ou uma foz, onde viu uma escuna veloz atracar. Começou a ser descarregada - uma multidão de crianças negras de 10 a 16 anos de idade. Completamente nus foram alinhados na beira da praia e pouco depois vieram dois senhores brasileiros num carro. Eles examinaram as crianças, e então as vestiram com camisas claras. Quando todas já estavam vestidas com essa traje leve foram amarradas em divisões e então empurradas por um caminho mato adentro. Jens, que era um homem forte e corajoso, os seguiu para ver o que ia acontecer com os coitadinhos, mas depois de ter passado por uma ponte na selva um dos guardas se virou e apontou uma pistola em direção ao Jens deixando-o entender que se afastasse se quisesse permanecer vivo. Assim o Jens teve que desistir de sua investigação, mas lhe queimou a alma ver as crianças serem deportadas para a escravidão miserável. Corriam-lhe lágrimas toda vez que relatava este acontecimento.

No entanto começou novamente um terrível período de febre amarela no Rio de Janeiro, e o patrão do Jens o aconselhou a ir embora de lá, também porque era perigoso principalmente para os europeus. O próprio Jens também queria ir embora. Foram as minas de ouro da Austrália que chamaram, e um dia ele soube do patrão que havia no porto do Rio um navio holandês pronto para seguir viagem para Melbourne na Austrália com imigrantes ingleses de Liverpool. Jens pôde embarcar pagando 60 "pjaster" (240 coroas) com a condição de trabalhar a bordo e comer junto com os marinheiros no camarote, onde também se encontrava sua cama. Certo dia o capitão desceu até o Jens e o cozinheiro que estavam fazendo o almoço. A camada de zinco que cobria o chão da cozinha fora danificada com fogo e o capitão perguntou ao cozinheiro como isso acontecera. O cozinheiro - um português - acusou o Jens, mas quando este percebeu que estava sendo acusado injustamente, agarrou-o e o deitou em cima do fogão, pedindo em meio norueguês, meio inglês que dissesse a verdade. Apavorado o cozinheiro agora gritou que Jens era inocente e pediu desculpa. O capitão não comentou nada sobre o jeito do Jens "exigir" os seus direitos, e depois disso Jens não teve mais aborrecimentos por parte do cozinheiro ou dos outros da tripulação. Eles respeitavam o "Urso Polar" como eles o chamavam e não quiseram conhecer de mais perto o seu punho poderoso.
A travessia durou aproximadamente 3 meses e foi cheia de perigos, porque no Mar da Índia eles passaram por várias tempestades, das quais a última veio tão de supetão que, quando estourou, rasgou várias velas. Apesar disso chegaram sãos e salvos em Melbourne, onde Jens, junto com 12 ingleses, se dirigiu para as minas de ouro. Eles dormiram em barracas, e dois homem vigiavam enquanto os outros dormiam. Foi difícil conseguir água, e muitas vezes contentaram-se com a água de lagos e brejos de água parada. Certa manhã descobriram um boi meio podre na beira da água do lado oposto daquele onde na noite anterior tinham buscado água para beber e cozinhar. Finalmente alcançaram o lugar chamado Bendigo, que se situava a mais ou menos 100 milhas de Melbourne. Aqui encontraram gente do mundo inteiro, mas poucos da Escandinávia. O dinheiro do Jens estava agora acabando, e ele então começou a trabalhar como diarista para um irlandês, que tinha uma espécie de um restaurante. Trabalhou lá uma semana por uma diária de 1 Libra Sterling, tendo que pagar sua própria comida. Nas minas de ouro ele tinha bastante sorte no início. No tercçeiro dia ele achou ouro no valor de 1200 coroas. Num dia daqueles ele encontrou um sueco, e ficou - como dá para imaginar - muito contente de ter encontrado "um compatriota por assim dizer", como ele mesmo se expressou. Mas a alegria durou pouco, porque agora que entraram em sociedade e trabalharam junto mostrou-se que seu novo amigo era um mentiroso e traidor. Ele roubou até ouro do Jens durante a noite enquanto este dormia, e assim não lhe restava outra coisa do que livrar-se dele e arranjar novos camaradas. Ele se juntou a uns alemães, e foi bom por um certo tempo. Mas quando ele aceitou um convite de uns imigrantes da Jutlândia e Slesvig (regiões no sul da Dinamarca na fronteira com a Alemanha) que queriam festejar a vitória dos dinamarqueses sobre os alemães na cidade de Fredericia, eles - os alemães - ficaram furiosos e xingaram-no com palavrões. Como Jens não gostava de ser tratado assim exigiu a sua parte do pagamento, o que também conseguiu, e dirigiu-se prontamente para os dinamarqueses que o receberam com alegria como amigo e companheiro. Juntos continuavam procurando ouro com mais ou menos sorte. Um deles era filho de um vassalo de Hoirup, se chamava Peter Nicolai Lagom e era de origem italiana. Eram todos bons camaradas e gente fina. Na verdade a vida nas minas de ouro era bastante selvagem e perigosa. Roubos e assassinatos eram comuns. Certo dia o Jens viu um homem morto pendurado na janela da barraca com o torso para dentro da barraca. Era um ladrão de ouro que tentara penetrar na barraca de uns ingleses para roubar. Um desses acordou e imediatamente lhe enfiou uma bala de pistola na cabeça, e deixou o corpo aí pendurado para poder provar que o falecido tinha sido pego em flagrante.

Entre os pesquisadores de ouro tinha também alguns chineses. Estes estavam armados com rifles de cano grosso e se mantiveram a parte. Mas quando eles depois de um tempo quiseram voltar para casa, a alfândega achou os rifles curiosamente pesados. No exame revelou-se que eles foram entupidos de pó de ouro, que obviamente foi confiscado na hora.
Jens prometera aos pais que voltaria para casa depois de ter tentado a sorte no exterior...... As vezes achava que tinha lugares tão belos para se viver na Austrália quanto na Noruega, e é possível que ele tivesse ficado por lá pelo resto da sua vida, se não fosse essa promessa e lembranças ternas da sua infância que alimentassem a vontade de voltar para casa.

Depois de três anos nas minas ele vendeu a sua parte para os dinamarqueses e viajou para Melbourne, que já crescera até o dobro desde a última vez que ele a viu. Com o cônsul norueguês - sueco esperavam 3 cartas de casa, e em todas elas tinha apelos para que ele voltasse para a casa. Ele decidiu dirigir-se em direção ao norte e embarcou num grande navio inglês que teria chegado com 800 imigrantes e que agora estava voltando com 400 garimpeiros. Aliás, estava carregado de ouro, lã e cobre. Dessa vez saíram rumo ao leste passando pelo extremo sul da América, mas uma tempestade terrível os empurrou para o sul, e durante 8 dias ficaram parados entre montanhas de gelo no Mar de Gelo do Sul (?) Icebergues gigantes passaram perto e a ansiedade a bordo era grande. Finalmente depois de 3 meses de viagem chegaram em Liverpool logo após o Natal de 1855, dali de trem até Hull, navio até Bremerhafen, e então de onibus até Hamburgo e Altona. Aqui ficou aproximadamente um mês esperando um navio até Kristiania ( hoje Oslo ), onde ele novamente em fevereiro de 1856 pisou em solo da pátria depois de 5 anos de ausência e uma verdadeira volta ao mundo.

A felicidade dos pais é mais facilmente imaginada do que descrita, apesar de que a sua pele bronzeada e a barba preta e longa o fizeram praticamente irreconhecível. O fazendeiro da montanha não é um homem de muitas palavras, porem o que se diz vem do fundo do coração.

Ele finalmente sossegou, casou-se com a irmã do seu amigo, Gunhild Johansdatter Bakken em Budal. Ele se mudou para lá e comprou Nordre Bakken (i. é o Morro do Norte), ou Nygard (i.é Fazenda Nova), como ele costumava chamá-lo. Seu trabalho como fazendeiro no Brasil lhe deu muita vontade de praticar a horticultura. Tanto na cidade natal de Singsas como aqui em Budal ele plantou árvores de frutas e condimentos. Mas ele reconheceu que a diferença entre o clima na vila da montanha norueguesa e o calor do Brasil era grande de mais para que ele pudesse esperar algum proveito da horticultura.

A lembrança da escravidão no Brasil nunca lhe saiu da memória, e muitas vezes ele ponderava como ele podia contribuir para a libertação de crianças escravas. E com este propósito ele escolheu um lote de terra que era de cultivo fácil e convidou os vizinhos para que eles juntos trabalhassem a terra e que o lucro fosse destinado à Missão Norueguesa em Madagascar. O dinheiro seria usado exclusivamente para comprar crianças escravas, para torná-las livres. O então capelão de Storen, Thaulow escreveu o documento segundo o desejo de Jens e que resolveu esta questão.

Quando conheci o Jens ele já era um homem de idade, mas seu rosto escuro e marcante e sua barba grisalha, junto com sua postura algo inclinada, testemunharam sua força dos tempos passados. Seus olhos confiantes e simpáticos que possuíam um cintilar jocoso lhe deu algo de atraente, e conhecendo-o melhor não enfraquecia a boa impressão. No último outono que viveu fez um passeio a sua casa de infância em Singsas. Daqui ele trouxe para Budal as árvores de amora que plantara após sua chegada da Austrália. Foi como se ele assim quisesse juntar os acontecimentos da sua vida agora no fim da sua existência terrestre. Essas árvores, que foram a primeira coisa com a qual ele se ocupava depois da volta, e que cresceram aonde foi seu berço, também vieram a ser a sua última ocupação, como se ele quisesse trazer o lar da infância para sua última casa na terra. Dia 29 de Maio de 1890 morreu o velho viajante do mundo. Ele enfrentou a morte em paz, e esperemos que alcançou paisagens mais lindas do que as que a Terra oferece.

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Dos companheiros de viagem do Jens Mahlum ao Rio de Janeiro, alguns ainda vivem O fazendeiro Johannes Halseth em Vaerdal é um deles. Ele continuou a viagem até a Califórnia e de lá retornou à Noruega. Dele tenho as principais informações sobre a primeira parte da viagem aqui relatada, e lhe devo por isto o meu mais sincero obrigado.

J.G. Ryther.




  • Genealogia de Olé Jensen Delet (pai de Gjert Olsen)

    31/01/2005

  • Genealogia de Olé Jensen Delet (pai de Gjert Olsen) de autoria de


  • Navio Sophie

    23/05/2004

  • Sobre o Navio que Gjert veio para o Brasil (Ingles)


  • Historia da Viagem de Gjert

    29/03/2004

  • Relato da organizacao da viagem e motivos (Ingles)


  • Um emigrante norueguês em 1850. J.G.Ryther

    12/05/2002

  • Aqui você vai encontrar a narração da história de um dos companheiros de Gjert Olsen na viagem do navio SOPHIE e em sua estadia na Colônia D. Francisca, hoje Joinville, para onde nosso patriarca acabou vindo e ficando, ...por força do destino!


  • Relato de Tia Geralda, em uma carta, s/ a família :

  • Neste relato, Geralda Olsen Murara , neta do Gjert Olsen, e filha de Adolfo Olsen dá informações sobre documentos da história da família Olsen, a pedido de uma sobrinha.


  • (Anotações do tio Chico):

  • Aqui podem ser lidas as anotações feitas por Francisco Bernardo Olsen, neto do Gjert Olsen, e filho mais moço de Adolfo Olsen, sobre suas lembranças da história da família.


  • Artigo no jornal "TRONDERBLADET.

  • Nesta reportagem de capa do jornal "TRONDERBLADET" publicada em 16 de agosto de 1997 em Lordag, Noruega, pode-se ter conhecimento de como ocorreu a visita de Yapurê Olsen (tataraneto de Gjert Olsen) à cidade de Storen, em busca de suas origens.


  • Do livro "Personalidades e a vida em Storen.

  • Alguns trechos do livro "Personalidades e a vida em Storen - Fazendas e região", onde aparecem interessantes informações sobre Gjert Olsen e sua primeira esposa , Maren.