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Expedição de mineradores de ouro organizada em Trondelag em 1850

Por: Brigitte Brandenburg e Luíz Roberto Olsen - em 17/08/2003

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Expedição de mineradores de ouro organizada em Trondelag em 1850


Artigo publicado, no periódico norueguês “Nidaros”, em 21/04/1927 – nº97

Autor: são apenas citadas as iniciais - “O;G.” - que conheceu Andreas Sakshaug-viajante da expedição.

Fonte: cópia do Artigo obtido no acervo do Arquivo Histórico de Joinville e copiado por Brigitte Brandenburg. Tradução do norueguês para o Inglês: Harald Torgard (Sola-Noruega) . Tradução inglês/port.: Brigitte. cópia em norueguês foi scaneado em jpg.


Em 1848, como se sabe, grandes quantidades de ouro foram encontradas na California, e todo tipo de aventureiros do mundo todo apinhavam-se lá para enriquecer rapidamente.

Os jornais da Noruega traziam muitas informações sobre a vida dos mineiros, e sabemos que muitos Noruegueses saíram daqui à procura de ouro.

Atualmente, são poucos que sabem a respeito de uma expedição organizada em Trondheim para viagem à California em 1850 com aproximadamente 100 homens jovens originários de Trondheim e das regiões vizinhas. Estes juntaram forças e juntos compraram um navio para a viagem.

Não faz muito tempo que o participante mais jovem faleceu. Ele chamava-se Andreas Sakshaug, de Inneroya. Ele veio de Alberg, em Sparbu, e foi agricultor em Sakshaug durante 40 anos, sendo que faleceu no último inverno aos 95 anos (inverno de 1926). Ele costumava contar a história da longa viagem que fez na juventude.

A maioria da informação da viagem, que disponho, foi coletada aqui em jornais publicados em Trondheim na época – Trondheim Stiftstidende, Den Frimodige e Adressa. Obviamente, mais poderá ser encontrado além do que eu tive a oportunidade de fazer. Mas os jornais da época contam o suficiente a respeito da viagem, de forma a fornecer a necessária informação.

Na primeira metdade de 1850, havia notícias frequentes sobre a California nos jornais de Trondheim, e entre os jovens da região, muitos queriam partir para esta terra do ouro. No fim de Janeiro daquele ano, pode-se ler o seguinte anúncio:

“Uma expedição à California. Mediante uma cota adequada, tudo que for necessário para tal empreendimento pode ser providenciado. O empreendimento será administrado através deste escritório.” Nos anúncios seguintes dos jornais, pode-se observar os preparativos para a expedição. No anúncio da metade do mês de março pode-se ler o seguinte:

“Listas de compras de cotas para uma expedição a California estão agora disponíveis neste escritório, onde pode-se obter todas as informações sobre o empeendimento. O objetivo da expedição é de participar da corrida do ouro. Aqueles que se considerarem participantes desta expedição lucrativa são convocados a decidirem-se o mais rápido possível, de forma que a expedição possa ser iniciada no período mais adequado do ano.”

Um mês mais tarde, quase o mesmo anúncio termina desta forma:

“Aqueles que se considerarem participantes devem decidir-se o quanto antes, no máximo até a Assembléia Geral no dia 22 de abril, já que um grande número de cotas já foi vendido”.

Na metade de maio e começo de junho, o comissionário responsável pela expedição a California, o comerciante I.G. Moses, anunciou a compra de um navio para a viagem. Algum tempo depois, este anunciou a procura por um mineralogista, um pastor e um médico. Em 24 e 25 de junho os acionistas tiveram outra assembléia geral na Prefeitura. Estes concordaram em contratar um navio de um estabelecimento mercantil em Hamburgo e um dos acionistas, R. Lyng (que faleceu em Joinville em 1852), foi enviado até lá como representante da expedição.

No entanto, eles nunca contrataram qualquer navio. Na metade de setembro, o Comitê de Suprimentos da expedição anunciou o seguinte:

“O representante da expedição (Lyng), teve a oportunidade de observar todos os problemas e inconvenientes que os participantes teriam que enfrentar em um navio contratado, e desta maneira, ao invés de contratar um navio, em nome do empreendimento, este comprou uma fragata que partiráir de Hamburgo no dia 15 deste mês, sendo Trondheim o primeiro porto de chegada e daqui içará velas para São Francisco”.

O navio chegou em Trondheim durante a noite do dia 15 de outubro. Seu nome era Sophie e o capitão era T. v. Leesen.

Em 21 de outubro houve outra Assembléia Geral na Prefeitura de Trondheim onde os acionistas obtiveram suas ações. Mesmo nesta data, o tesoureiro da expedição, H.T. Knudtzon ainda dispunha de algumas ações.

Na tarde do dia 26 de outubro o navio velejou de Trondheim com 106 passageiros a bordo. No dia anterior, 32 participantes estiveram na Igreja de Nossa Senhora para confissão. O jornal “Den Frimogide” escreveu:

“A partida correu bem, já que uma tempestade do sudeste rapidamente trouxe o navio a mar aberto. Muitos comentários poderiam ser feitos nesta ocasião, mas, por várias razões, achamos melhor silenciar e desejar que Deus coloque suas mãos sobre os que partiram e manter a esperança das famílias que ficaram por um feliz reencontro.”

Não há nenhuma notícia nos jornais de Trondheim antes de abril/maio 1851. O navio estava então no Rio de Janeiro. É preciso ter em mente que os navios tinham que velejar ao longo da América do Sul – não havia canal do Panamá nesta época. Agora transcrevo o que o jornal “Den Frimodige” escreveu:

“Chegou uma carta de R. Lyng, do Rio de Janeiro, datada de 10 de fevereiro 1851, onde sabe-se que os participantes do empreendimento encontram-se no momento. A data da chegada ao Rio não podemos saber, já que esta carta faz referência a outras anteriores, que não chegaram a seus destinatários. No entanto, entende-se que no Rio de Janeiro aportaram para reestocar com carvão e outras provisões. Durante a estada no Rio, o capitão, que parece ser uma má pessoa, declarou que não continuará a viagem com o navio Sophie, o qual este alega ser inadequado para a jornada. Os membros do empreendimento mandaram avaliar o navio, que foi declarado totalmente apto, mas o capitão ainda assim recusou-se a continuar. Durante a estada no Rio, os participantes consumiram a maior parte das provisões a bordo, os quais não possuíam condições de repor com seus recursos, e como o salário do capitão e despesas, etc. tinham que ser pagas, os participantes não mais serão capazes de continuar sua viagem à Terra do Ouro, a menos que mais dinheiro possa ser enviado de casa. No entanto, o empreendimento recebeu uma oferta para estabeleceram-se como colonos em terra fértil e facilmente agricultável não muito longe do Rio de Janeiro, de propriedade do Príncipe de Joinville, e de acordo com a carta do Sr. Lyng, sob condições favoráveis. No entanto, a primeira opção é a de continuar a jornada desde que os acionistas atuais possam juntar a necessária quantia em dinheiro. É sob estas circuntâncias, felizmente, que nossos compatriotas estão em local de onde podem retornar para casa com navios vindos do Brasil com peixe; portanto, eles não estão totalmente dependentes das circuntâncias e talvez bem melhores assim do que se estivessem nas minas da California, onde muitos encontram suas covas e poucos a fortuna que procuram. Como a primeira carta enviada por Lyng não chegou, e a última carta apenas refere-se à primeira, não sabemos como foram as condições da viagem. Da mesma forma, se todos ainda estão vivos, temos razões para acreditar em algo.”

Um mês depois, no começo de maio, pode-se ler nos jornais de Trondheim:

“Do relatório consular do Rio de Janeiro datado de 21 de fevereiro (1851) consta que: “...De Trondheim chegaram 74 noruegueses com o navio Hamburguês registrado como Sophie; o grupo assumiu que ser incapaz de continuar para a California devido à falta de recursos. Há uma oferta de Schröder & Comp. Para estabeleceram-se como colonos na província de Santa Catharina, onde há propriedades que pertencem ao Príncipe de Joinville, o qual este estabelecimento comercial (Schröder & comp.) dispoem através de contrato.”

Mais tarde, no mesmo mês, soubemos como foi a vida à bordo do Sophie. O jornal Trondhjem Stiftstidende escreveu:

“De acordo com cartas recebidas mais tarde dos viajantes à California, a viagem não foi tão ruim como muitos acreditaram. Houve uma série de de tempestades violentas e persistentes, mas a vida à bordo foi bem tolerada devido à alimentação nutritiva e pela modificação do interior do navio durante a viagem, o que tornou o deck inferior mais espaçoso e confortável. Os chests (?) maiores foram armazenados na entrecoberta e as camas (beliches) foram substituídas por hammocks (redes?). No natal, quando passaram Madeira, os viajantes tiveram pudim de arroz de natal (Rice Porridge), beberam bom vinho e brindaram aos seus queridos em casa. Eles tinham até mesmo um candelabro aceso para a ocasião festiva, apesar de parecer estranho na escuridão da entrecoberta.

Não houve doença, com exceção do mal-estar inicial (enjôos) que os atormentou. No Rio de Janeiro o navio foi condenado e vendido por 1.800 Spesidaler mais 500 Spesidaler por equipamentos que pertenciam ao navio. Aos passageiros, agora resta procurar por outras saídas. 71 pessoas, das quais duas morreram mais tarde, decidiram colonizar as terras pertencentes ao Príncipe de Joinville, outro grupo continuou com um vapor em direção à São Francisco (California) como passageiros de serviço (ou tripulantes). Os restantes retornaram à Europa ou estão planejando fazê-lo na primeira oportunidade. Houve pouca satisfação a bordo com o capitão e os administradores da joint venture. Além disso, o espírito entre os passageiros não foi o de união e amizade, sem os quais uma viagem desta jamais pode ser realizada. Um daqueles que faleceu foi R. Lyng, que foi morto por um ramo de palmeira durante o trabaho na colonia, segundo me contou Andreas Sakshaug. Ele mesmo permaneceu no Brasil três anos e meio e retornou à Europa a bordo de um navio alemão.

Obs.: o segundo faleceu em Paraty (Araquari) e há um relato a respeito no livro de Ficker (se não me engano-n.t.)

Um abraço a todos

Brigitte Brandenburg e Luíz Roberto Olsen

Pirabeira- Joinville - SC